A instabilidade cambial é um fato que preocupa empresários e outros atuantes do comércio exterior. A variação do câmbio e as constantes oscilações da moeda são eventos que podem impactar diretamente os rumos dos negócios, bem como os resultados esperados. Convidamos o especialista Francinei Marques para trazer suas considerações sobre os principais recursos para conter o cenário desafiador.
Por Francinei Marques Marcelino – Contador e consultor empresarial, especialista em contabilidade internacional, tributação e comércio exterior.
Gestão de Riscos Corporativos para driblar a instabilidade cambial
Entender o cenário que está por vir é a chave para tomar decisões concretas e lidar com as incertezas apresentadas pelo mercado. O ano de 2025 será de grandes desafios para as empresas, em especial as do segmento de comércio exterior.
Isso se dá pelas ações do Governo Federal para ajustar sua política fiscal e implementar medidas de corte de gastos, além do trabalho do Congresso Nacional para aprovar projetos em andamento. Nesse contexto, é essencial a intervenção do Banco Central do Brasil (BCB), aumentando a taxa básica de juros (SELIC) para conter a inflação.
O mercado tem precificado o risco que tem efeito nas taxas câmbio, que seguem batendo recordes e gerando efeito direto na economia. Diante desse cenário desafiador, os administradores precisam desenvolver instrumentos de gestão capazes de minimizar os riscos e gerar valor para os seus acionistas.
Abaixo podemos ver as previsões macroeconômicas do Banco Central (acesse o link para conferir os resultados na íntegra).
A instabilidade das taxas de juros e de câmbio e as oscilações nos preços de insumos e produtos da empresa podem induzir a perdas significantes e de difícil recuperação.
Conceitos sobre gestão de riscos
É necessário que os gestores sejam capazes de implementar metodologias de gestão de riscos capazes de assegurar o crescimento da organização e conter a instabilidade cambial. Uma boa ferramenta de gestão de risco, deve suportar os gestores nas decisões de aumentar, reduzir ou manter posições em risco, bem como sobre a realização de transferências de posição entre seus diversos negócios.
Os riscos financeiros decorrem de eventos que afetam o caixa da organização, sendo classificados como: risco de crédito (eventualidade dos clientes não liquidarem as suas obrigações com a empresa), risco de liquidez (dificuldade de obtenção de crédito para o financiamento das suas atividades) e risco de mercado (variação do resultado da empresa devido aos efeitos econômicos, concorrentes e novos entrantes, queda na demanda pelos seus produtos e serviços).
Os riscos surgem sistematicamente pelo desenvolvimento dos negócios da companhia, que se torna sensível à instabilidade cambial, oscilações das moedas ou indexadores, que tem efeitos diretos a vários preços, por exemplo commodities, flutuações nas taxas de câmbio, com efeito nos preços dos produtos e serviços da organização.
Sempre que uma empresa assume posições em uma determinada moeda ou sujeita-se a um certo indexador, em que os volumes captados e aplicados não coincidem, submete-se ao risco da taxa de câmbio. Uma valorização da cotação pode gerar um ganho no contas a receber e uma perda no contas a pagar.
O mesmo efeito ocorre com as taxas de juros, à medida que as taxas de juros de mercado se modificam, os valores das posições de contas a pagar e receber sofrem variações não coincidentes, valorizando-se quando as taxas caem e desvalorizando-se pelo aumento dos juros, levando a uma perda na posição ativa e ganho na passiva.
O sucesso de longo prazo da empresa diz respeito a sua capacidade de oferecer produtos e serviços demandados pelos clientes, com o nível de qualidade desejado, a um custo que permita a rentabilidade adequada dos acionistas, remunerando a contento os riscos associados. A administração de riscos direciona ações para diversificar ou eliminar riscos desnecessários, que não geram recompensa. Modelos de gestão de riscos adequados orientam a eliminação de riscos excessivos, enquanto possibilitam a maximização do retorno do investimento dos acionistas.
No comércio exterior podemos utilizar os derivativos como instrumentos de gestão de riscos. O uso de derivativos na gestão financeira pode proporcionar às empresas proteção contra diversos riscos.
Derivativo é um instrumento cujo preço de mercado deriva de outro ativo ou contrato. Para contrato futuro de taxas de juros – contrato futuro DI, conforme praticado no mercado brasileiro – é um derivativo, pois o valor de mercado do contrato é determinado (deriva) pelo comportamento das taxas de juros (DI).
Podemos citar como exemplo uma trading que possui uma obrigação futura de pagamento de dívida em moeda estrangeira. Para se proteger de uma eventual desvalorização do real em relação à moeda estrangeira, a empresa pode adquirir contratos futuros da moeda a uma paridade conhecida previamente. Assim se a moeda se desvalorizar perante o dólar, o custo mais elevado do pagamento da dívida externa pode ser compensado pela compra a futuro da moeda estrangeira, por um preço previamente acordado.
A Bovespa é o mercado formalmente estabelecido para negociar os diversos instrumentos futuros no Brasil. O uso de derivativos possui dentre outras vantagens:
· Criar defesas contra variações adversas nos preços;
· Melhor gerenciamento de risos e, por consequência, redução do preço dos bens;
· Possibilita alavancagem de posição.
Alguns exemplos de instrumentos financeiros derivativos negociados na Bovespa:
· Contratos Futuro de Taxa de Câmbio em Reais por Dólar;
· Mercado Futuro de Taxa de Juros no Brasil;
· Swap;
· Termo de Moedas.
Diante do cenário apresentado para a economia do Brasil, as organizações capazes de desenvolver sistemas de gestão de riscos, serão capazes de ter conhecimentos dos riscos que por elas podem ser controlados. As empresas podem usar os instrumentos financeiros derivativos como ferramentas de gestão de riscos.
Dessa forma, companhias que possuem sistemas ERP capazes de registrar as suas operações e gerar informações capazes de auxiliar o administrador financeiro na tomada de decisão são cruciais para a boa gestão de riscos.
➡️Veja também: A valorização do dólar e seus reflexos no comércio exterior brasileiro